Há alguns meses atrás, pensando nos motivos e nas diversas possibilidades que, de certa forma, construíram o caminho para que eu me tornasse músico, dois fragmentos de memória, dentro de uma enorme colcha de retalhos, me mostraram algumas das referências que se tornaram fundamentais para esta trajetória. Guardadas em algum canto de minhas recordações, consigo lembrar detalhes de cada uma das duas situações: cores, cheiros, sensações. Porém, se perderam cronologicamente, e não consigo, por mais que já tenha tentado, encaixá-las em numa seqüência “correta” de encadeamento dos fatos.
Lembro de um bando de cabeludos na sala da minha casa, conversavam com o meu pai, tocavam violão e cantavam. Eu não conhecia as músicas e ficava no cantinho da sala. Acho que eu estava escondido. Ficava quietinho vendo o que estavam fazendo e torcendo pro meu pai não me mandar embora, pois adorava ouvir as músicas. Mesmo sem conhecê-las. Lembro também, de em um determinado dia, logo depois do almoço, sair com meu pai. Fomos à casa dos cabeludos. Quando chegamos, eles já estavam nos esperando na varanda. Entramos e passamos por toda a casa em direção a um quintal nos fundos, lá tinha um quartinho. Entramos. Da porta, enxergava uma bateria, e nas paredes vários instrumentos de cordas – violões, violas, cavaquinho, bandolins – acho que tinha instrumentos de percussão também. Me encantei, queria mexer em tudo, saber como funcionava, brincar naquele lugar que por alguns segundos me pareceu o lugar mais divertido e interessante do mundo. Mas infelizmente, esta ânsia e euforia duraram simplesmente alguns poucos segundos. Ao terminar a viajem visual que meus pequenos olhos faziam pelo quartinho, me deparei com uma placa “É Proibido Mexer nos Instrumentos”. Meu mundo caiu. E demorou mais alguns anos até que eu conseguisse “brincar” num quartinho parecido com aquele.
Estas são as primeiras lembranças que tenho ao pensar no meu interesse por música, e os cabeludos que me proporcionaram tal contato são os cinco irmãos integrantes do grupo “Força Vocalis”. Banda formada na cidade de Congonhas, com influências das mais diversas, fortes características da música mineira, um trabalho vocal que deixa qualquer um impressionado e que neste ano de 2011 completa 30 anos de existência.
No último domingo (16/10), pude novamente encontrá-los e presenciar um novo show. E do mesmo jeito que aquelas canções me encantavam quando não as conhecia e as escutava no cantinho da sala, continuam a me emocionar agora que já fazem parte da minha vida. Na grande maioria do tempo consigo cantar junto, mesmo que desafinado, com os cinco irmãos que foram uma das maiores referências musicais que tive, me trazem lindas lembranças de infância e continuam encantando com suas letras e melodias num tempo em que se torna cada vez mais complicado se preocupar com letras e melodias.
"... e fecundar o chão." Me identifico com as suas palavras, meu caro. Foi com uma história parecida que comecei a pintar o sete! Graças aos queridos mestres congonhenses, hoje há muita sementinha plantada por aí e espero que hajam muitas ainda por vir, para "conhecer os desejos da terra..." Um grande abraço e boa sorte nas andanças! Luísa Bahia.
ResponderExcluirNão tive o privilégio de acompanhar o ensaio dos cabeludos na sala da minha casa, mas com certeza tive a oportunidade de conhecê-los quando eu ainda era criança (ainda bem), não tinha a pretensão de ser músico na época mas no meu inconsciente estavam lá os cabeludos, tocando os primeiros acordes que hoje fizeram toda diferença, valeu a força Força...
ResponderExcluirAdorei o grupo desde que vc me emprestou o CD Pablo, realmente é algo muito bom, e no show vi a qualidade indiscutível.
ResponderExcluirAbraços
Ótimas palavras! e o show foi emocionante..
ResponderExcluirPablo, parece que temos uma ou mais gerações inteiras em Congonhas que foi encantada e chamada à arte pelas vozes do Força. Minha experiência é parecida, era meu pai quem curtia o grupo, junto com minhas tias, que eram meio fãs tietes apaixonadas. Rsrs. Ontem eles eram cabeludos admiráveis que faziam mágica nos nossos ouvidos. Hoje são mestres pra gente que tá engatinhando no mundo da música e da poesia. Tive muito recentemente a felicidade de ter tido um poema do meu livro musicado por eles, mas ainda nem conheci a parceria. Mas estou ansiosa e desde já honrada pela generosidade desse grupo com essa filhotinha aqui. Beijos e parabéns a "Solar Music" pelo evento que, pelo visto, foi ensolarado! beijo e sucesso pra vocês!
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