coração, juventude e fé...

           Não é segredo pra ninguém a minha quase devoção à obra e à voz de Milton Nascimento. No último domingo, pude mais uma vez obter doses do talento deste grande artista, acalmando a alma e preparando o clima para o fim do ano. Acompanhei com muita expectativa e emoção ao “Show dos Direitos Humanos”, onde um time peso-pesado de artistas (Lenine, Fernanda Takai, Chico César, Elza Soares, Luís Melodia, Elba Ramalho, Lô Borges, Pablo Milanés, Arnaldo Antunes, Margareth Menezes) se apresentou, celebrando os 62 anos da Declaração Universal dos Direitos Humanos e o Aniversário de 113 anos de Belo Horizonte. Isso tudo através de uma grande homenagem a Milton Nascimento.

           O cenário desta grande festa era a “Praça da Estação” e não poderia ter sido melhor escolha. Aquela torre, o relógio, o trem, o clima do público, sem comentários... Todo mundo em paz, sem confusão e disposto a ouvir o que de melhor temos por aí. Assim começou o show, cada artista apresentava 2 ou 3 canções, sendo uma sempre do repertório de Milton Nascimento. Destaco as participações de Lenine (realmente o cara é foda!) e Elba Ramalho que cantou um Coração de Estudante que ecoa em meus ouvidos até agora - "coração, juventude e fé". A apresentação do Lô Borges também foi das melhores, ele cantou Paisagem da Janela e O Trem Azul. Me arrepiei do começo ao fim. Nesse momento, a chuva que caía forte desde a entrada de Chico César no palco com a força de sua música fazendo todos cantarem "Mama África", continuou dando as caras, mas ninguém arredou o pé e em meio a muita água todo mundo cantava “...quando eu falava deste temporal...”.

           Mas não tem jeito, o Milton é o Milton, foi só o cara aparecer que a praça veio abaixo, entrou cantando Canção da América, que é uma música difícil para eu escutar, pois lembro muito do meu pai e fiquei com um nó na garganta o tempo todo. Nem consegui ajudar o imenso coral que cantava com entusiasmo. Destaco também Encontros e Despedidas, pura emoção, sem palavras para descrever e que também caiu muito bem ao lugar e ao momento. Em seguida Milton chamou ao palco alguns convidados para duetos. Fernanda Takai, Pablo Milanés, Lô Borges e Lenine, que tocou sua música "Paciência", perfeita na voz de Milton. No encerramento do show todos os convidados subiram ao palco para a interpretação de Maria, Maria e a platéia fez sua participação especial, cantando "Peixe Vivo".

           Apesar da chuva, da meia molhada que ficou me incomodando o tempo todo e dos contra-tempos que tivemos, aqueles momentos foram mágicos. A voz de Milton Nascimento tem propriedades terapêuticas e a cada dia me torno mais fã desse grande artista que transforma tudo em poesia.