quinta-feira, 13 de janeiro de 2011

Flores e Espinhos.

            Nestes últimos dias, aproveitando meu período de férias, reservei algum tempo para a leitura do livro “50 anos a mil”, uma autobiografia do controverso Lobão. Desnecessário apresentar o autor e altamente recomendada a leitura. Percorrendo seus 50 anos de vida, fazemos a “radiografia” de uma geração e percebemos indícios que nos levam a fazer inúmeras suposições sobre a efervescência da década de 80 e do BRock. Porém, meus apontamentos de hoje não incidem diretamente na leitura deste livro, apesar de ter partido de uma constatação feita por Lobão.

            No atual momento em que se encontra nossa “cultura pop”, alguns nomes se tornaram referência, aceitos por uma espécie de senso-comum e dotados de uma “incontestável” qualidade. Em se tratando da década de 80 e principalmente da cena rock que foi formada, o nome de Cazuza imediatamente nos vem à mente e para demonstrarmos suas qualidades, uma série de seus versos podem ser usados. Mas nem sempre as coisas foram assim. Segundo Lobão, testemunha ocular dos acontecimentos e amigo do personagem em questão, durante muito tempo Cazuza foi visto como um “playboyzinho com mania de poeta” e um “doidão-filhinho de papai”. Somente após assumir publicamente que era portador de uma doença incurável e que a qualquer momento poderia morrer, é que conseguiu um enfoque abrangente e positivo sobre sua obra. Ainda segundo Lobão, fato semelhante aconteceu com sua própria carreira, que passou a ser vista com outros olhos e ter maior reconhecimento após sua conturbada prisão por porte de drogas.

           Exemplos como estes, onde artistas com reconhecido talento, mas reféns de suas “trapalhadas” extra-artísticas não nos faltam. Atualmente, podemos acompanhar pelos jornais e pelas notícias espalhadas por variados meios de comunicação, a tour de Amy Winehouse com alguns shows em nosso país. O talento desta cantora é inegável e pode ser visto espalhado por seus dois discos, com maior destaque para o segundo Back to Black. Porém, um imenso circo é montado ao redor de Amy (visto um segundo talento, igualmente incrível, para fazer cagada). Assim, sua poesia, sua musicalidade e principalmente sua voz, são cada vez mais relegadas a um segundo plano.

           Penso que ao acompanharmos algum artista, não devemos pensar se ele bebe, cheira, tem opção sexual ou crença diferente da sua, lê, escuta ou pensa diferente de você. A arte, neste caso específico a música, é maior que tudo isso, ou pelo menos deveria ser...

3 comentários:

  1. Tá ai um texto que eu concordo 100%.
    Show de bola !!!
    Abraços, espero todos sexta no show

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  2. Pra mim, essa é uma questão complicada. Eu tenho um pouco de dificuldade de separar as coisas, sabe? No caso do Lobão por exemplo, que conta no livro a agressão ao pai, acaba criando em mim um certo desinteresse pela pessoa, talvez um tipo de preconceito. Por isso nem tenho muita vontade de ler o livro. Mas acontece mais em relação à pessoa, não à sua obra. Não quero ler o livro porque realmente não me interessei por sua história. Mas não é por isso que deixarei de ouvir suas músicas. Acho um pouco frustante quando gosto muito de um som e descubro que o autor da música é um viciado, porque fico com a impressão de que a inspiração dele não é natural. Estranho. Confesso que sou um pouco careta pra certas coisas mesmo...
    Mas no caso de artistas polêmicos demais, como a Amy e o Cazuza, citados no texto, acredito que a mídia (sempre ela!) consegue aumentar demais os problemas. Acabam tirando o talento do artista de foco mesmo, porque problema dos outros vende mais. Falar da vida alheia é certeza de lucro para o jornalismo sensasionalista. Em alguns casos, como segundo você, o Lobão diz no livro, os artistas acabam ganhando notoriedade e fama depois de ficarem conhecidos por seus atos não aprovados pela sociedade e escancarados pela mídia. É uma pena!

    Mas eu, sinceramente, ainda preferia que meus ídolos fossem todos do bem. Mas fico satisfeita em escutar suas músicas e costumo não me ater a seus escândalos.

    Esse texto pra mim é o melhor até hoje. Gostei muito da forma como você relacionou as coisas! Parabéns!!

    Beijo.

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