sexta-feira, 12 de novembro de 2010

... tempo, tempo, mano velho...

          
          Com a chegada do fim de mais um ano, conseqüentemente com a chegada de mais um aniversário, fica latente a sensação da passagem do tempo, ou seja, estou ficando velho. Mas como dizem por aí, com a idade vem experiência. Ao longo desses meus quase 30 anos, desde a mais tenra infância já demonstrava grande interesse pela música, teatro e cinema, e pude acompanhar muita coisa interessante e muita coisa estranha, acontecidas em meio a estes campos, principalmente tratando-se da grande mídia. Porém, nestes últimos dias, pensamentos recorrentes perturbam minhas reflexões e através deste texto vou tentar sistematizá-los.

          Em conversas com alguns amigos, discutíamos sobre a situação da atual cena POP musical brasileira (de novo esse termo!) e de como as coisas ficaram visuais e coloridas, onde o “ver” se tornou mais importante que o “ouvir”. Falávamos com certa nostalgia sobre a década de 80, de como o rock ocupava lugar de destaque na mídia e de como grandes poetas como Cazuza e Renato Russo foram importantes para criação e solidificação deste movimento cultural. Ponderávamos sobre a abertura dos veículos midiáticos, que tocavam músicas dos grandes da MPB (Chico, Caetano, Gil, Milton) e conversávamos sobre o clima de liberdade e abertura política que propiciavam o nascimento de grandes obras nos diferentes segmentos.

          Após estas constatações, lembrei-me dos meus tempos na faculdade de história, onde aprendi que, o primeiro passo para a correta análise de um fato, é buscar o seu distanciamento. Portanto, o clima nostálgico com que tratamos o referido período, poderia maquiar o seu correto entendimento. Do mesmo modo, esse “não afastamento” dos dias atuais poderia distorcer nossa compreensão acerca dos acontecimentos de nosso período e dificultar a compreensão de características importantes, sem falar do poder de influência da mídia.

         Dessa forma, fico com os seguintes questionamentos: será que em períodos anteriores ao nosso tudo era tão bom assim? Todas as bandas eram legais e a música pop estava a salvo se não tivéssemos mudado nada? E nos dias de hoje, será que tudo é ruim? A preocupação musical ganha contornos superficiais e todas as manifestações estão no campo do visual? Ainda não consegui nenhum tipo de conclusão, mais penso que tudo deve ser relativizado. Numa breve pesquisa pela internet, uma boa dose de músicas de qualidade discutível, produzidas pelas décadas de 70, 80 e 90 pode ser facilmente encontrada, assim como lindíssimas obras podem ser igualmente encontradas se direcionarmos nosso foco para esta primeira década do século XXI. Neste momento lembro-me de uma frase do recentemente foragido Belchior: “você que ama o passado e que não vê que o novo sempre vem”.


6 comentários:

  1. Com certeza mais experientes! Agora, velhos já não acredito, pois varia muito do que está na cabeça de cada um. kkkkk
    Creio que seja exatamente como foi dito. Hoje o POP brasileiro é mais "ver" que "ouvir". Daí levanto uma questão: 'Se música é pra se ouvir, o que é "isso" que está acontecendo então?' Estranho, não???
    Creio que hoje estão fazendo 'músicas' superficiais a ponto de deixá-la incompleta. Espero que seja fase, e que voltem a fazer música usando toda criatividade, recursos e sonoridade que só ela proporciona.
    Excelente texto! Siga em frente Sal da Terra. Hora de outro show, hein!

    Abraços

    Cláudio Peroli

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  2. O que diria Wolfgang Amadeus Mozart, por exemplo, a música produzida em 1970?
    No meu ponto de vista, a música veio sofrendo inovações e simplificações durante o passar dos anos, porem nos tempos atuais, percebo que a palavra ridicularização entrou para esse contexto.
    Hoje é assim, o que for mais ridículo vende mais!!! Por que o consumidor infeliz, quer se destacar com a galera sendo ridículo. Por que ser ridículo é ser doidão e legal.

    Me batam mais é o que penso.... rs

    Abraços

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  3. Galera, saca o video.Fala sobre a juventude...
    http://www.vimeo.com/16641689

    Abraços

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  4. Acho que a música, enquanto arte e manifestação cultural demonstra características de uma sociedade e de seu tempo. Vejo o "mercado" musical atual como reflexo de uma juventude que se preocupa muito mais com o ter do que o ser, criando então uma confusão entre esses dois conceitos. Pelas letras e apetrechos visuais das bandas (seja de rock, pop, axé ou o que for), está explícita a idéia de que quem tem mais é melhor. E uma característica desse "nosso tempo" que, na minha opnião, é muito relevante nesse ponto é a idéia de definição pra tudo. Ou seja, existe uma definição estabelecida de beleza, de estilo, de vida, de felicidade, etc. Se alguma coisa está fora desses padrões, não serve. Acho que isso ajuda a atrapalhar o poder de criação das pessoas. Vejo hoje os jovens com sua criatividade comprometida, delimitada. E acho que isso contribui muito para a atual cena musical.

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  5. Muito bom o vídeo que o Rafael postou, depois vou até fazer um post especial sobre ele. Um ponto me chamou a atenção e faz muito sentido com o dito anteriormente, este lance de pensamento não linear, esta coisa de hiper-links, tudo caótico, tudo rápido... que viagem!!!!!!!

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